quinta-feira, 30 de julho de 2009

SALAME RUSSO

Certa ONG, dessas quem existem pelo mundo afora promovendo à custa das improbidades dos governos, doou para a prefeitura de uma aldeia russa perdida nos confins do país, uma peça de salame para que fosse distribuída exclusivamente entre os seus habitantes mais pobres.
A doação foi muito bem recebida pelos próceres do lugar que, obviamente ocupavam os cargos de mando e que viram nela uma excelente oportunidade de chamarem para se a iniciativa de tão benemérito ato – o que certamente faria com que fossem glorificados e imensamente lembrados nas futuras eleições. E assim, imbuídos por tais perspectivas entregaram-se imediatamente ao trabalho. Foi convocada uma assembleia extraordinária à qual deviam comparecer todos os membros do conselho deliberativo, sem exceção.
E logo de início, defrontou-se com um grande problema – o primeiro de uma grande série – com se verá no decorrer desta narrativa: “_ Qual o critério a ser adotado para classificar um habitante mais pobre, já que praticamente toda a população da aldeia tinha a mesma condição social e pecuniária?”
É inegável dizer que tal mistério gerou acalorada discussão que ocupou toda sessão plenária daquele dia. Exaustos de tanto palavrório, discursos inflamados e acirrados desentendimentos que não chegavam a lugar algum, optaram por dar prosseguimento ao assunto no dia seguinte.
Na segunda reunião, também não foi possível resolver coisa alguma, e então, a solução ficou para do dia seguinte e assim, de adiamento em adiamento chegou-se ao final do mês sem qualquer vislumbre de solução para tão importante questão. Foi então decidido passarem para outros aspectos relacionados à divisão do salame.
Neste ponto da história, é preciso esclarecer que a peça do salame ficava exposta diante dos membros da assembléia durante todo o tempo em que duravam os debates e que seu aroma era perturbador. E foi justamente durante uma das sessões mais acaloradas que alguém levantou uma “questão de ordem”: “_ É preciso, antes de tudo saber-se se esse salame é de boa qualidade!”
“_ Mas como é que vamos fazer isso?”
“_ Experimentando o salame, é lógico!”
“???”
“!!!”
O perfume do salame transcendia todas as elucubrações e, por isso, a moção foi aprovada por unanimidade. O presidente do conselho determinou que o salame fosse desembrulhado e que cada membro da assembleia cortasse uma fatia para provar e dar seu parecer. E ele, o presidente, com a boca cheia d’água, foi o primeiro a provar daquela tão apetitosa iguaria.
Todo o membro da assembleia serviu-se de uma fatia daquele pitéu, cujo sabor do mesmo modo que o aroma foi aclamado como inefável.
Mas foi então que a assembleia deu-se conta de que a experimentação, fatia por fatia, consumira toda a peça do salame e que dele só restara o barbante que o amarava. E, depois de alguns instantes de considerações sobre o imprevisto decidiram que o barbante fosse jogado no lixo, pois não haveria sentido distribuir entre os aldeões pobres um pedaço dele.
Com o assunto encerrado, a matéria arquivada dissolvida e não se falou mais sobre o salame.

É isso que, mais ou menos acontece conosco, o povo brasileiro, quando as “autoridades” resolvem tratar de algum assunto que possa beneficiar-nos. Está aí a “questão dos precatórios” que não me deixa mentir!



Por Edmundo Bessa

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